O ínsulo

domingo, dezembro 10, 2006

TLEBS - 3

TLEBS, dicionários e gramáticas

Num dos seus últimos programas na RTP, entre os livros que apresentou (recomendou?), o professor Marcelo mostrou-nos um novo dicionário da Verbo, sublinhando a particularidade de que se trata de um dicionário com a nova TLEBS (terminologia linguística para o ensino básico e secundário). E eu logo desabafei para os meus botões: “Eh lá, tão depressa?! Assim, já, antes que a grossa polémica acabe de estar devidamente conversada e resolvida? Se calhar ainda vai sair asneira...
E decidi-me a escrever aqui umas palavras sobre dicionários/enciclopédias da Verbo. Sabemos que é da Verbo o tão famoso como desafortunado Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da responsabilidade da Academia das Ciências de Lisboa. Famoso, porque a editora o apresentou como sendo, desde a edição, o instrumento por excelência da “normativização” (sic) da Língua Portuguesa; desaforttunado (=infeliz ), porque, como é sabido, acaba por não ser um dicionário a sério, mas antes uma vergonha de que deveria envergonhar-se a própria Academia que o patrocinou, a qual mereceu a seguinte referência por parte de José Carlos de Vasconcelos, no JL nº 940 (De 11 a 24/Out./06), p. 3, a propósito do “Encontro de Academias do Brasil e de Portugal (de 18 a 21 de Outubro): “pergunto-me se tal iniciativa servirá para transmitir algum alento à velha instituição portuguesa, que ao contrário da sua congénere do Brasil não se tem distinguido nem pelo seu dinamismo, nem pelo seu prestígio, nem pela sua influência na vida e na sociedade do país. Os membros da ACL são seguramente pessoas respeitáveis, muitas ou algumas serão mesmo muito activas, até notáveis, mas de facto a acção da nossa Academia é ou parece quase inexistente. Por outras palavras: não obstante tentativas de uma certa renovação, ou de algum rejuvenescimento, a ACL parece “morta”, enquanto a ABL surge como estuante de vida e actividade, multiplicando-se em iniciativas as mais diversas.”
Para esclarecer as razões que me levaram a “dizer mal do referido Dicionário, permito-me remeter para Tento na Língua!..., Plátano Editora, para as seguintes rubricas em que, para o bem e para o mal, se refere o dito dicionário: 84, 95, 98, 115 (1º vol.); 116, 159, 180, 183, 207, 215 (2º vol.); 311, 342 (3º vol.). Todas estas referências derivam de consulta trivial. Mas deixam-me a pensar no que se encontraria se se tratasse de uma análise aturada. Só alguns exemplos. Não regista a palavra ‘historíola’ que precisei de confirmar. Desejando confirmar a etimologia do verbo ‘mancomunar’, eis que às tantas me aparece “ = CONCLUIR” (em vez, obviamente, de ‘CONLUIAR’). Quanto a estrangeirismos, regista, por exemplo, em entradas diferentes, ‘stress’ e ‘stresse’, assim mesmo, meio aportuguesado (não seria melhor adoptar definitivamente o ‘estresse’ dos Brasileiros? Ao consultar o verbo ‘perpasssar’, verifiquei que não se deram ao trabalho de indicar quando é transitivo ou intransitivo, como faz qualquer outro, usando as abreviaturas: t., tr. ou trans. e i. ou intr. Nada disso, apenas um v. e só v. e nada mais que v., que quer dizer ‘verbo’. E, por curiosidade. fui procurar outros verbos Qual o quê?! Em todos os que verifiquei, v. e só v. e nada mais que v. Para o verbo ‘andar’, p. e., nem v.i. e tr. como alguns, ; ou v. tr. e intr. como outros; ou ainda, como o Porto Editora: A) v. intr. [...] B) v. tr.[...] C) s. m.; ou então o Aurélio que tem 19 acepções indicando cada uma com as abreviaturas da terminologia brasileira... E é então este dicionário que pretende “normativizar e acabar com as polémicas”?!...
Imagine o leitor o que eu fui levado a pensar quando vi o anúncio do novo dicionário Verbo, já com tlebs e tudo !... E, por falar em dicionários, falemos de enciclopédias. Olhem, por exemplo, a grande Enciclopédia Verbo, a antiga, claro! Lembro-me de tantas vezes ter ido de propósito às bibliotecas, só para consultar a Verbo, em que eu depositava confiança, sobretudo nas áreas clássicas. E quando, nas vésperas do milénio, publicitaram a nova “Verbo XXI”, caí na esparrela de a comprar (se a outra era boa, esta – “XXI” - haveria de ser melhor, pois então! ). Aqui vos digo: tem sido para mim uma grande decepção. Mal empregado o dinheiro que me custou! E então agora, sai o dicionário com a nova tlebs, assim com tanta precipitação, sabendo nós que, para integrar devidamente a tlebs nos dicionários, vai ser precisa, às editoras, uma trabalheira, um desperdício e a correspondente “despeseira”!... É para desconfiar...
Outra coisa, em que a tlebs me tem feito pensar maduramente e com alguma apreensão, são os manuais, especialmente as gramáticas que terão, todas, de levar uma volta com a profundidade exigida pela seriedade da coisa. E, notem bem, com o risco de, qualquer dia, terem de ser outra vez ‘reparadas’, repostas, como aconteceu as gramáticas “generativizadas” dos anos 70/80...
Haja calma, meus senhores! Calma e ponderação, porque a precipitação nunca foi boa conselheira!
E para terminar, só mais uma pergunta inocente: terão os responsáveis da tlebs contactado os responsáveis pela Língua Portuguesa no vasto Mundo Lusófono?...