TLEBS - 5
O nome substantivo e a inovação complicativa
A gente sabe que a moderna linguística, por via e ao nível da investigação, descobriu fenómenos linguísticos que dão lugar a conceitos que têm, portanto, de ser nomeados com novas palavras que lhes correspondam. Mas também sabemos que não deve ser do pé para a mão que devam substituir, em sede de terminologia destinada aos ensinos básico e secundário , esses neologismos, de vocábulo ou de mera acepção. E muito mais, se eles possam ser (ou parecer) desnecessários ou inúteis, e até de certo modo perturbadores do ensino/apredizagem da gramática da língua.
Parece-nos que a nova TLEBS, em vez de facilitar, só virá complicar o processo. E é por isso, mas nem só por isso, que estamos contra ela. Até pelo processo como ela foi, afinal, elaborada e mesmo oficializada por meio de portaria, já publicada no Diário da República, sabemos agora que na vigência do governo de Santana Lopes. Para que ninguém possa dizer que estamos para aqui a falar de cor, a falar por falar, vamos apresentar, comparativamente a classificação de nomes substantivos, tendo em vista as gramáticas com mais de meio século de uso entre nós e por exemplo a Grammaire du Français Contemporain, Larousse, 100ª edição, de 1997, da responsabilidade autoral de cinco professores universitários, certamente bem escolhidos pela Larousse.
Tomemos, por exemplo, a palavras: cão (chien), justiça (justice), multidão (foule)..
Segundo Elementos de Gramática Portuguesa, de Adriano A.Gomes,11ª edição, (sem data, ou a página em que tinha a data, rasgou-se..., mas deve ser dos anos finais da década de 30 , iniciais de 40, pois se trata da minha primeira gramática no ensino secundário). De notar que a edição apresenta um parêntesis em que se afirma “(profundamente modificada)”. Vejam então. Primeiro Adriano Gomes, a seguir Celso Cunha.
- cão – (nome) substantivo, concreto, masculino singular.
- justiça – (nome) substantivo, comum, abstracto, feminino singular
- multidão - (nome) substantivo colectivo, feminino singular
- cão – substantivo comum, concreto, masculino singular
- justiça – substantivo comum, abstracto, feminino singular
- multidão – substantivo comum, colectivo, feminino singular
Por aqui se vê que, no essencial, a mesma classificação atravessou todas estas décadas (mais de 50 anos), de gramática em gramática até à Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha / Lindley Cintra, 3ª edição Sá da Costa – 1986. Agora segundo a nova TLEBS:
- cão – nome comum, contável, animado e não humano, masc. singular (contável e não contável, até o meu computador rejeita!...).
- justiça – nome comum, não contável e não humano, fem. singular
- multidão – nome comum, contável, animado, humano , fem. singular
Agora pergunto eu, justificando os adjectivos ‘desnecessários, inúteis e até perturbadores’ que acima emprego, tendo em vista a classificação ‘contável/incontável, animado/inanimado, humano/não humano’ (não viria aqui a calhar desumano?...): tem alguma pertinência, na classificação do substantivo, acrescentar estes adjectivos? Até porque eles invadem áreas disciplinares/curriculares que os alunos aprendem pragmaticamente (ou já conhecem de outras disciplinas: matemática, ciências naturais, etc.!). Acham que vale a pena estar a complicar quando se trata de classificar gramaticalmente um substantivo?...
Por falar em substantivo e a título de curiosidade, peço aos senhores responsáveis desta TLEBS, que se dêem ao trabalho de consultar as gramáticas do Francês, actuais, para verem se eles ‘exterminaram’ da terminologia gramatical, o substantivo. Para eles, le nom continua a ser le nom substantif et le nom adjectif. E, para tanto, baseiam-se, não numa tradição de décadas ou mesmo de séculos, mas numa tradição mais que milenar: nomen substantivum e nomem adjectivum dos gramáticos latinos (Ver a entrada ‘Substantivo, Gram.’, da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira). Depois, pouco se importam com a distinção entre concreto e abstracto e mesmo colectivo, mas realçando a rubrica ‘noms propres’. Pelo que, se eu quisesse classificar os substantivos acima indicados, segundo a referida Grammaire du français contemporain, teria de ser como noms substantifs non propres.
Já agora façamos o mesmo exercicio com a palavra seguinte:
- possivelmente – segundo as gramáticas portuguesas acima referidas: advérbio de modo; segundo a nova TLEBS: advérbio disjunto modal. E a mim, só me resta perguntar, ao diácono, xe havia mesmo nexexidade?... E dizer ainda que, para os falantes do Francês, ‘possiblement’ continua a ser simplesmente un adverbe de manière e, para os espanhóis, embora a Gramática Básica del Espanhol, SGEL, 10ª edição 2001, se tenha deixado levar, na classificação do nombre substantivo, com a tal... ‘desnecessidade’ - “animado/inanimado, humano/não humano, contável –, quanto ao advérbio ‘posiblemente’ , chama-lhe simplesmente adverbio de modo...
(Lembro-me bem de, na minha prática, tentar explicar aos alunos o significado, quanto possível etimológico, dos termos da terminologia gramatical. Para advérbio [ad+verb(i)um], dizia-lhes que era uma palavra que tinha como função modificar (daí chamarem-lhe alguns gramáticos modificador...) o significado de outra palavra a que se juntava, fosse verbo, adjectivo ou mesmo outro advérbio... ).
A gente sabe que a moderna linguística, por via e ao nível da investigação, descobriu fenómenos linguísticos que dão lugar a conceitos que têm, portanto, de ser nomeados com novas palavras que lhes correspondam. Mas também sabemos que não deve ser do pé para a mão que devam substituir, em sede de terminologia destinada aos ensinos básico e secundário , esses neologismos, de vocábulo ou de mera acepção. E muito mais, se eles possam ser (ou parecer) desnecessários ou inúteis, e até de certo modo perturbadores do ensino/apredizagem da gramática da língua.
Parece-nos que a nova TLEBS, em vez de facilitar, só virá complicar o processo. E é por isso, mas nem só por isso, que estamos contra ela. Até pelo processo como ela foi, afinal, elaborada e mesmo oficializada por meio de portaria, já publicada no Diário da República, sabemos agora que na vigência do governo de Santana Lopes. Para que ninguém possa dizer que estamos para aqui a falar de cor, a falar por falar, vamos apresentar, comparativamente a classificação de nomes substantivos, tendo em vista as gramáticas com mais de meio século de uso entre nós e por exemplo a Grammaire du Français Contemporain, Larousse, 100ª edição, de 1997, da responsabilidade autoral de cinco professores universitários, certamente bem escolhidos pela Larousse.
Tomemos, por exemplo, a palavras: cão (chien), justiça (justice), multidão (foule)..
Segundo Elementos de Gramática Portuguesa, de Adriano A.Gomes,11ª edição, (sem data, ou a página em que tinha a data, rasgou-se..., mas deve ser dos anos finais da década de 30 , iniciais de 40, pois se trata da minha primeira gramática no ensino secundário). De notar que a edição apresenta um parêntesis em que se afirma “(profundamente modificada)”. Vejam então. Primeiro Adriano Gomes, a seguir Celso Cunha.
- cão – (nome) substantivo, concreto, masculino singular.
- justiça – (nome) substantivo, comum, abstracto, feminino singular
- multidão - (nome) substantivo colectivo, feminino singular
- cão – substantivo comum, concreto, masculino singular
- justiça – substantivo comum, abstracto, feminino singular
- multidão – substantivo comum, colectivo, feminino singular
Por aqui se vê que, no essencial, a mesma classificação atravessou todas estas décadas (mais de 50 anos), de gramática em gramática até à Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha / Lindley Cintra, 3ª edição Sá da Costa – 1986. Agora segundo a nova TLEBS:
- cão – nome comum, contável, animado e não humano, masc. singular (contável e não contável, até o meu computador rejeita!...).
- justiça – nome comum, não contável e não humano, fem. singular
- multidão – nome comum, contável, animado, humano , fem. singular
Agora pergunto eu, justificando os adjectivos ‘desnecessários, inúteis e até perturbadores’ que acima emprego, tendo em vista a classificação ‘contável/incontável, animado/inanimado, humano/não humano’ (não viria aqui a calhar desumano?...): tem alguma pertinência, na classificação do substantivo, acrescentar estes adjectivos? Até porque eles invadem áreas disciplinares/curriculares que os alunos aprendem pragmaticamente (ou já conhecem de outras disciplinas: matemática, ciências naturais, etc.!). Acham que vale a pena estar a complicar quando se trata de classificar gramaticalmente um substantivo?...
Por falar em substantivo e a título de curiosidade, peço aos senhores responsáveis desta TLEBS, que se dêem ao trabalho de consultar as gramáticas do Francês, actuais, para verem se eles ‘exterminaram’ da terminologia gramatical, o substantivo. Para eles, le nom continua a ser le nom substantif et le nom adjectif. E, para tanto, baseiam-se, não numa tradição de décadas ou mesmo de séculos, mas numa tradição mais que milenar: nomen substantivum e nomem adjectivum dos gramáticos latinos (Ver a entrada ‘Substantivo, Gram.’, da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira). Depois, pouco se importam com a distinção entre concreto e abstracto e mesmo colectivo, mas realçando a rubrica ‘noms propres’. Pelo que, se eu quisesse classificar os substantivos acima indicados, segundo a referida Grammaire du français contemporain, teria de ser como noms substantifs non propres.
Já agora façamos o mesmo exercicio com a palavra seguinte:
- possivelmente – segundo as gramáticas portuguesas acima referidas: advérbio de modo; segundo a nova TLEBS: advérbio disjunto modal. E a mim, só me resta perguntar, ao diácono, xe havia mesmo nexexidade?... E dizer ainda que, para os falantes do Francês, ‘possiblement’ continua a ser simplesmente un adverbe de manière e, para os espanhóis, embora a Gramática Básica del Espanhol, SGEL, 10ª edição 2001, se tenha deixado levar, na classificação do nombre substantivo, com a tal... ‘desnecessidade’ - “animado/inanimado, humano/não humano, contável –, quanto ao advérbio ‘posiblemente’ , chama-lhe simplesmente adverbio de modo...
(Lembro-me bem de, na minha prática, tentar explicar aos alunos o significado, quanto possível etimológico, dos termos da terminologia gramatical. Para advérbio [ad+verb(i)um], dizia-lhes que era uma palavra que tinha como função modificar (daí chamarem-lhe alguns gramáticos modificador...) o significado de outra palavra a que se juntava, fosse verbo, adjectivo ou mesmo outro advérbio... ).
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