O ínsulo

domingo, dezembro 31, 2006

NATAL / 1959

Mais um Natal

(De um poeta de andar por causa ainda com fé, mas quase desenganada)

Mais um Natal! Mais uma noite fria
de calor divino vai passar por mim...
Mais uma vez direi: ”Eu não sabia
que este gelo e esta neve ardia
e queimava assim!”

Mais uma vez armei o meu presépio
e cantarei...
ao Menino Jesus eu cantarei
lindas canções de amor:
“Porque estais com frio, meu Menino-Rei,
quando Vós sois o Senhor?!”

Mais uma vez...
... e o ar se embalsama de mistério.
E a noite, que de graça e luz se fez,
por fora nossa alma envolve,
e por dentro,
inebriada em sons de encantamento
de místico saltério.

- Mas porquê, Jesus, tu voltas a insistir
com os homens para que se amem,
para que Te amem
na fé em Ti e na tua esperança?!
Há tantos anos que o fazes, e a sorrir,
sempre a sorrir amorosamente
um infinito sorriso de criança! –

Mais uma vez... e o mundo voltará,
nas noites frias que depois virão,
a resfriar e a ressequir,
como se ele em si sentisse já
outra vez
míngua de pão e de sorrir...

Mais uma vez... e outra... e outra mais...
enquanto no mundo houver sinais
de desamor,
o teu Natal, Senhor,
se haverá de repetir...

Natal /1959
António Marques