(QUASE) TLEBS - 8
CARTA ABERTA AO DIÁRIO DE NOTÍCIAS
(Esta já é de Outubro, mas convém tê-la sempre presente)
Senhor Director,
Esteve O Ínsulo para escrever ao Director logo no dia em que foi publicada a já célebre NR que tão acertadamente respondeu aos contestários da forma correcta do também já célebre título de primeira página “Um terço dos estudantes já foram vítimas de violência” . Satisfeito com a resposta , a meu ver correctíssima, expressa na tal NR, acabei por dar a questão por arrumada e não cheguei a escrever para dar os parabéns à Direcção do Diário que há muitos anos diariamente leio.
Eis senão quando, hoje (2/Out./ 2006), vem o provedor e estraga tudo! Estragou tudo porque acabou por atirar com a grosseira dúvida para cima da correcta solução da tal NR ! Com base, vejam bem, num sofisma, de resto muito mal elaborado ! É por essas e por outras que eu não vou com a figura de provedor seja do que for. Mesmo assim, atraído pelo título “Singular ou plural”, leio a página do Provedor dos leitores e deparo com o tal sofisma da prof.ª Maria Regina Rocha, consultora da Ciberdúvidas . “(1) Um terço dos estudantes já foi vítima de violência = Há muitos estudantes no País. Um terço já foi vítima de violência (e nunca: Um terço já foram vítimas de violência)”. Veja-se se tem algum jeito este exemplo. Se é de um exemplo assim que se trata!...
Um exemplo que sofismadamente não tem nada a ver com os exemplos dos ilustres gramáticos que defendem a duplicidade de forma de usar o singular ou plural em casos em que a forma do tipo ‘o grosso de’, ‘metade de’, ‘a maior parte de’ terá de ser seguida de determinativo no plural, como aconteceu no título em questão “Um terço dos estudantes já foram (ou já foi) vítima(s) de violência”. E o sofisma está em fazer desaparecer ( pelo sim pelo não...) o plural do partitivo, levando o exemplo até à forma “Um terço já foi vítima (e nunca: Um terço já foram vítimas de violência)”. Nem se entende aquele sinal ‘ = ’ que, em boa verdade, não corresponde a qualquer igualdade, pois de semântica não se trata e, tratando-se de sintaxe, a igualdade não se pode propor, exterminado que foi o complemento (determinativo plural). Alguém acha que há relação de igualdade entre a primeira frase e a segunda, mesmo acrescentada da terceira e da quarta? Todas juntas, podem ser maneira diferente de exprimir a mesma ideia, talvez, mas são frases, no plano da sintaxe, gramaticalmente diferentes . O que fez a autora do sofisma foi manipular o discurso de modo a fazer desaparecer o tal determinativo plural – dos estudantes – até chegar a uma forma que, essa, já não permite a duplicidade!... Para não perder a ideia de plural, deu a volta ao discurso e começou por aí: “Há muitos estudantes no País.” Etc e tal.... Experimentem substituir o título do jornal por todo este discurso que vem depois do sinal ‘ = ’!...
É claro que, transformando a frase, de modo que não tenha lugar o detrminativo do partitivo, no plural, terá de ser singular. Mas repare-se bem : no início do exemplo, o determinativo está lá –“dos estudantes” – está lá tornando legítimo o duplo uso em alternativa (do singular ou do plural). É isto que defendem todos os bons gramáticos e linguistas que há mais de um século nos têm apoiado o ensino do Português, em todas as gramáticas, desde as mais antigas, passando por Adriano Gomes, Nunes de Figueiredo e outros, ou mais recentes Pilar Vasquez Cuesta, Celso Cunha / Lindley Cintra, sem esquecer as gramáticas que estão ainda a ser usadas nas escolas, entre as quais: Gomes Ferreira da Porto Editora, Borregana da Texto, Castro Pinto / al. da Plátano , Cármen Nunes / al. da Didáctica Em suma, todos admitem a legitimidade da dupla forma – singular ou plural - desde que a frase esteja construída com o partitivo plural.
Mas vêm esses e essas linguistas, que se dizem, note-se bem, de gramática descritiva e não normativa, arrogar-se o direito de, não só romper com a norma, de décadas, talvez de séculos, mas também, e ainda por cima, impor (veja-se a contradição sem pés nem cabeça!) a sua norma. Como? De qualquer maneira nem que, para tanto, seja preciso manipular, distorcer, transformar o exemplo em questão, de modo a torná-lo diferente, deformado. Como? Afirmando-se linguistas de gramática descritiva, mas assumindo atitude normativa (da sua norma, claro!). Sim, porque a profª Maria Regina não se apoia em ninguém com indiscutível autoridade linguística e gramatical: é assim porque sim; é a sua opinião e pronto!
Espero bem que qualquer dia não venham esses linguistas descritivos defender que ‘vão haver’ está correcto porque sim ou porque a maior parte dos falantes assim dizem (ou diz)...
Para concluir, continua a cirtaçã0, ipsis verbis, da dita senhora professora. Assim: “(...) Concluindo: ao contrário do que fez o Diário de Notícias (e o Público, já agora...), neste tipo de frases, deve usar-se o singular, que respeita a norma sintáctica, evitando-se a concordância pelo sentido.” “deve” – diz a senhora. Ou seja, decreta a sua opinião “que respeita a norma” , implicitando que a outra forma não respeita; para evitar porquê ?, se a concordância pelo sentido pode respeitar a norma?! ( Veja-se tb “concordância de proximidade”...). E diga-se que a concordância pelo sentido, ou com o sentido, herdou-a a nossa língua da sua mãezinha latina (constructio ad sensum), que, nesse caso, até vai além da nossa norma, admitindo que um nome colectivo pode levar o verbo para o plural, como acontece nos seguintes exemplos: “Multitudo confugiebant” (Cíc., De Off., 2,41, cit. in Compêndio de Gramática Latina, Nunes de Figueiredo / M. Ana Almendra, 6ª ed., p. 141; “Cetera classis fugerunt [ A restante armada fugiu] (Liv , cit in Gramática Latina , António Freire – Public. da Fac. de Filosofia de Braga, 1983, p. 169). É claro, a este uso normativo não chega a ousadia da nossa língua.
Com os melhores cumprimentos
do Ínsulo
(Esta já é de Outubro, mas convém tê-la sempre presente)
Senhor Director,
Esteve O Ínsulo para escrever ao Director logo no dia em que foi publicada a já célebre NR que tão acertadamente respondeu aos contestários da forma correcta do também já célebre título de primeira página “Um terço dos estudantes já foram vítimas de violência” . Satisfeito com a resposta , a meu ver correctíssima, expressa na tal NR, acabei por dar a questão por arrumada e não cheguei a escrever para dar os parabéns à Direcção do Diário que há muitos anos diariamente leio.
Eis senão quando, hoje (2/Out./ 2006), vem o provedor e estraga tudo! Estragou tudo porque acabou por atirar com a grosseira dúvida para cima da correcta solução da tal NR ! Com base, vejam bem, num sofisma, de resto muito mal elaborado ! É por essas e por outras que eu não vou com a figura de provedor seja do que for. Mesmo assim, atraído pelo título “Singular ou plural”, leio a página do Provedor dos leitores e deparo com o tal sofisma da prof.ª Maria Regina Rocha, consultora da Ciberdúvidas . “(1) Um terço dos estudantes já foi vítima de violência = Há muitos estudantes no País. Um terço já foi vítima de violência (e nunca: Um terço já foram vítimas de violência)”. Veja-se se tem algum jeito este exemplo. Se é de um exemplo assim que se trata!...
Um exemplo que sofismadamente não tem nada a ver com os exemplos dos ilustres gramáticos que defendem a duplicidade de forma de usar o singular ou plural em casos em que a forma do tipo ‘o grosso de’, ‘metade de’, ‘a maior parte de’ terá de ser seguida de determinativo no plural, como aconteceu no título em questão “Um terço dos estudantes já foram (ou já foi) vítima(s) de violência”. E o sofisma está em fazer desaparecer ( pelo sim pelo não...) o plural do partitivo, levando o exemplo até à forma “Um terço já foi vítima (e nunca: Um terço já foram vítimas de violência)”. Nem se entende aquele sinal ‘ = ’ que, em boa verdade, não corresponde a qualquer igualdade, pois de semântica não se trata e, tratando-se de sintaxe, a igualdade não se pode propor, exterminado que foi o complemento (determinativo plural). Alguém acha que há relação de igualdade entre a primeira frase e a segunda, mesmo acrescentada da terceira e da quarta? Todas juntas, podem ser maneira diferente de exprimir a mesma ideia, talvez, mas são frases, no plano da sintaxe, gramaticalmente diferentes . O que fez a autora do sofisma foi manipular o discurso de modo a fazer desaparecer o tal determinativo plural – dos estudantes – até chegar a uma forma que, essa, já não permite a duplicidade!... Para não perder a ideia de plural, deu a volta ao discurso e começou por aí: “Há muitos estudantes no País.” Etc e tal.... Experimentem substituir o título do jornal por todo este discurso que vem depois do sinal ‘ = ’!...
É claro que, transformando a frase, de modo que não tenha lugar o detrminativo do partitivo, no plural, terá de ser singular. Mas repare-se bem : no início do exemplo, o determinativo está lá –“dos estudantes” – está lá tornando legítimo o duplo uso em alternativa (do singular ou do plural). É isto que defendem todos os bons gramáticos e linguistas que há mais de um século nos têm apoiado o ensino do Português, em todas as gramáticas, desde as mais antigas, passando por Adriano Gomes, Nunes de Figueiredo e outros, ou mais recentes Pilar Vasquez Cuesta, Celso Cunha / Lindley Cintra, sem esquecer as gramáticas que estão ainda a ser usadas nas escolas, entre as quais: Gomes Ferreira da Porto Editora, Borregana da Texto, Castro Pinto / al. da Plátano , Cármen Nunes / al. da Didáctica Em suma, todos admitem a legitimidade da dupla forma – singular ou plural - desde que a frase esteja construída com o partitivo plural.
Mas vêm esses e essas linguistas, que se dizem, note-se bem, de gramática descritiva e não normativa, arrogar-se o direito de, não só romper com a norma, de décadas, talvez de séculos, mas também, e ainda por cima, impor (veja-se a contradição sem pés nem cabeça!) a sua norma. Como? De qualquer maneira nem que, para tanto, seja preciso manipular, distorcer, transformar o exemplo em questão, de modo a torná-lo diferente, deformado. Como? Afirmando-se linguistas de gramática descritiva, mas assumindo atitude normativa (da sua norma, claro!). Sim, porque a profª Maria Regina não se apoia em ninguém com indiscutível autoridade linguística e gramatical: é assim porque sim; é a sua opinião e pronto!
Espero bem que qualquer dia não venham esses linguistas descritivos defender que ‘vão haver’ está correcto porque sim ou porque a maior parte dos falantes assim dizem (ou diz)...
Para concluir, continua a cirtaçã0, ipsis verbis, da dita senhora professora. Assim: “(...) Concluindo: ao contrário do que fez o Diário de Notícias (e o Público, já agora...), neste tipo de frases, deve usar-se o singular, que respeita a norma sintáctica, evitando-se a concordância pelo sentido.” “deve” – diz a senhora. Ou seja, decreta a sua opinião “que respeita a norma” , implicitando que a outra forma não respeita; para evitar porquê ?, se a concordância pelo sentido pode respeitar a norma?! ( Veja-se tb “concordância de proximidade”...). E diga-se que a concordância pelo sentido, ou com o sentido, herdou-a a nossa língua da sua mãezinha latina (constructio ad sensum), que, nesse caso, até vai além da nossa norma, admitindo que um nome colectivo pode levar o verbo para o plural, como acontece nos seguintes exemplos: “Multitudo confugiebant” (Cíc., De Off., 2,41, cit. in Compêndio de Gramática Latina, Nunes de Figueiredo / M. Ana Almendra, 6ª ed., p. 141; “Cetera classis fugerunt [ A restante armada fugiu] (Liv , cit in Gramática Latina , António Freire – Public. da Fac. de Filosofia de Braga, 1983, p. 169). É claro, a este uso normativo não chega a ousadia da nossa língua.
Com os melhores cumprimentos
do Ínsulo
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